terça-feira, 30 de março de 2010

uff...

Sabem aqueles dias em que parece que meia dúzia de rinocerontes vos passou por cima e que depois lhes deu para fazerem marcha-atrás e pumbas, vai de passar outra vez? E sabem aqueles dias em que sentem que há gente pertencente a 3 categorias:
Categoria a) As pessoas que têm esta designação mas que não passam de calhaus com olhos;
categoria b) Os seres que pensam MESMO que os outros vivem para os chatear.
Categoria c) Os incompetentes-pedantes.
Pronto, este belo dia que findou foi deste género. Passei 14 horas na escola a olhar para números. Isto não se faz a uma pessoa com défice de atenção, como eu, por exemplo, e a coisa piora consideravelmente quando pensamos que amanhã ainda é dia de documentos e mais a porra das burocracias que estes gajos arranjam. Bom, vou enfardar nestum, dormir e ver se vou para o meu belo Alentejo DESCANSAR.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Diz que é das hormonas

Li hoje no blog da Luna que afinal há mesmo uma prova científica para a burrice dos meus alunos e diz que é a própria puberdade. Nada de novo, é certo, mas sempre dá para uma pessoa se rir nas reuniões secantes que se aproximam.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O meu pai


O meu pai é o maior e o mais bonito e o mais inteligente de todos os pais do mundo e arredores. Herdei dele a desarrumação, a distracção e a lágrima fácil. Chorei muito na minha adolescência por ser filha de alguém tão rígido, mas agora sei agradecer-lhe os nãos que ouvi. Cada um deles. O meu pai era o pai que as minhas amigas temiam: havia o pai ausente, o pai bonacheirão e o meu pai. Quando havia algum trabalho da escola para fazer, lá montávamos nós a confusão no stand, mas a coisa durava pouco, bastava ouvirmos o tossir típico e parava logo ali a parvoíce. Ninguém falava no carro quando ele nos ia apanhar à escola e era com alguma miúfa que eu lhe pedia se podíamos ir na caixa aberta da carrinha. E ele às vezes dizia que sim, e era a loucura! Tenho um pai levado da brecaa, com um feitio complicado, mas sei que herdei dele essa rectidão no trato, principalmente com os meus alunos. Foi ele que me ensinou a fabulosa frase:Quanto mais te baixas, mais o cu aparece. Na esperança que eu aprendesse a saber distinguir humil dade de subserviência. Foi ele que me ensinou também que quanto mais conheço pessoas mais prefiro os animais. Com ele aprendi a gostar de animais, a não ter nojo de carraças nem de pulgas e a gostar de dar banho à cãozoada toda. Com ele aprendi a levar comida aos animais vadios às escondidas. Foi ele quem me fez reconhecer a validade da resposta: Eu sou eu, naqueles meus momentos comunistas da adolescência. Foi o meu pai que tirou importância ao facto de eu ter tido 12 no exame de Latim, enquanto eu chorava no lugar do pendura. O meu pai detesta pimentos assados e feijão frade e eu gosto muito de o picar com isso. Ligo para casa todos os dias e ele diz para a minha mãe é a pintassilga! e fica a ouvir a conversa e de vez em quando interrompe e diz: fala mais que um saca-moelas!
É o meu pai, pronto.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sacana fofinho da tia


Ao telefone, há uns minutos:

- Então e diz lá, tens saudadinhas do pai?

- Tenhó...e tuas tamém! Quando vens, tia?

- Ó amiguinho, tu sabes que a tia é como a Sónia, tem muitos meninos e não os pode deixar sozinhos, coitadinhos!Tens de esperar mais uns dias. Pouquinhos. Mas tu também tens pena dos meninos, não tens?

- Ê...NÃO!



Já não vejo mámãe, pápai, mano e sobrinhinho há 2 meses. Estas coisas deixam-me assim a modos que...GULP.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Some call it payback. I call it teaching.

Tenho duas turmas de Língua Portuguesa, uma assim-assim e a outra má mesmo. Os assim-assim são uns imbecis mimados, os maus são uns cromos sem regras mas que eu prefiro, francamente.
Acabei de cotar os testes dos maus e tenho seis negativas. Not bad. Not good either. Trabalhar faz calos e esteve um fim-de-semana tão bom para se enfiarem em Dolce Vitas e Colombos...
Os outros estão corrigidos e só os coto amanhã, ainda assim, pela mancha de pontos de interrogação e riscos encarnados, nada de bom se avizinha. O número de negativas não andará muito longe do resultado da outra turma, mas é pior em comparação. São alunos com vidinhas melhores e com pais (um nadinha) mais responsáveis.
Anyway, tinha de os moer. Cheguei à sala ao melhor estilo Mary Poppins, propondo-lhes a redacção de um texto sobre as actividades levadas a cabo no fim-de-semana: criaturas cheias de entusiasmo e canetas em laborioso afinco!
Começa a procissão da entrega e lá começo a ler sobre jogos de futebol, idas a centros comerciais, jantaradas, visitas do padrinho...estudar que é bom? NICLES!
Quando comecei a agrafar os textos sobre o fim-de-semana ao teste, os semblantes mudaram: Tu queres ver que ela afinal nos vai lixar? Então mas não era para escrever sobre o futebol e o passeio no Colombo?

ps: Corrigi mais 25 textos, é certo, mas vale a pena. Muaha ha ha ha ah!

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Marquês é um zombie!

Assisti a uma aula de História e Geografia de Portugal e descobri que as minhas aulas são muito aborrecidas.
Estavam a dar a Implantação da República, a bandeira o hino e tal e coiso ao que o professor decide REVER algumas coisas, perguntando:
- Então e quem foi o autor da letra do nosso hino?
- O MARQUÊS DE POMBAL!
- O MOZART!
- O BÉÉÉTOVE!

Es-pec-ta-cu-lar!
E eu quero que eles saibam as subclasses do advérbio e as preposições de cor. Pois 'tá bem!

domingo, 14 de março de 2010

Terminando a sequência deprimente:

Pode parecer estúpido, mas ler os comments aos posts que escrevi desde sexta-feira dá-me algum sossego, não sei bem a razão, mas sabe bem. Há uns tempos, em conversa com colegas, surgiu a questão: porque é que há por aí séries à brava sobre médicos e advogados, polícias e não sei quê, e nem uma sobre professores? Eu cá acho que devia ser uma valente seca e deprimente até à exaustão. Putos desbocados, professores frustrados/enervados/cansados/borrifando-se para tudo. Salas em que chove lá dentro, auxiliares que se sentem com o rei na barriga e que têm mais apoio das estruturas directivas do que os próprios professores.Computadores às carradas e miúdos sem livros ou cadernos. Reuniões atrás de reuniões. Negativas que passam a positivas como que por magia e acaba o ano. Créditos. Executive Producer: Ministério da Educação. To be continued...
E bom domingo, valha-nos o sol!

sábado, 13 de março de 2010

Continuação da continuação...

Afastemo-nos então da indisciplina. Na disciplina de Inglês costumo propor-lhes um project-work por período. Por período, não por unidade temática. Desta feita, encomendei-lhes uma maquete/desenho que evidenciasse a rua em que vivem, salientando os serviços lá existentes. O prazo termina na segunda e recebi dois. Tenho 48 alunos. Os que recebi são como água e azeite: um foi feito em cartolina laranja berrante e a lápis. Não se consegue, portanto, ler nada. Informei a aluna disso, dizendo-lhe que seria difícil a obtenção de uma boa nota, uma vez que eu não conseguiria ler com clareza a legenda. Bufou enquanto exclamava: A stôra também!...
O outro trabalho foi feito com preocupação e alguma ajuda dos pais: está muito bem feito. A aluna em questão é filha do representante dos E.E. da turma e é um exemplo. No outro dia, por ter notado que se estavam todos borrifando para o que lhes estava a ensinar, fechei o livro, escrevi o sumário e ditei:
Exmo Sr. Encarregado de Educação:

Em virtude do desinteresse demonstrado pelo seu educando, o conteúdo em estudo na aula de hoje está sumariado. Deste modo, fica à responsabilidade do mesmo o estudo e compreensão da matéria da aula de hoje.

Com os melhores cumprimentos

No dia seguinte fui ver as assinaturas. A menina em questão esquecera-se da caderneta, então, ligou ao pai que me enviou o seguinte sms:

Professora:

Assinei o recado mas a ****** foi irresponsável e esqueceu-se da caderneta na cozinha. Peço desculpa pelo sucedido.

Entre outras cadernetas por assinar, uma vinha acompanhada deste recado oral: A minha mãe diz que tem mais em que pensar.

Concluo que há por aí gente que não sabe definir prioridades.

continuação do post anterior

Outra coisa que me deixa ainda mais revoltada, é saber que o suicídio foi cometido a 9 de Fevereiro e só agora vem a público, talvez porque se integra na sequência do suicídio do aluno em Mirandela. Não querendo medir a importância, parece-me que a preocupação escolheu um lado e não é o do professor. Digo e volto a dizer que isto só está assim pelos pais, Digam o que disserem. A escola é uma estrutura que deve acolher a diversidade? Sim. E a diversidade tem lá gente que não acata ordens. Sim, ordens. Não são instruções, são ordens! Sente-se, levante-se e venha ao quadro. É uma ordem porque é do lado do professor que está a autoridade, ou não? Quando isto falha, meus amigos, falha tudo. Vi ontem uma mãe a berrar com um Director de Turma porque queria o telemóvel da filha de volta: a professora de Matemática retirou-lho por esta ter estado a usá-lo na aula e, cumprindo o regulamento interno, levou-o ao Director. A mãe em questão não comparece quando a filha perturba o normal decorrer das aulas, mas pede para sair do emprego mais cedo para reaver o telemóvel da menina. E isto é a ponta do icebergue.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Que termo Inglês se arranja para isto?

- Ó stôra, ouviu aquela notícia do stôr que se matou?
Risos alarves ecoaram na sala.
- Ouvi.
- E o que é que a professora acha?
- Acho que, a ter uns alunos assim, agarrava numa caçadeira de canos cerrados, entrava na sala, despachava-os a todos e depois é que me suicidava.
Risos alarves param.
- Mas continuemos com os advérbios, que ainda temos de fazer uns exercícios.

Não estou a tentar armar-me em engraçada, longe disso. Li o rodapé da tvi quando estava a beber café em frente à escola e parei um bocado para pensar: Rio de Mouro está a meia dúzia de Km daqui. Pensei na profunda tristeza de um colega, do sentimento de impotência e da raiva pelo sistema que aquele profissional sentiu ao ponto de fazer o que fez.
Sou áspera, não sou a típica professora amiguinha, cá para mim a coisa não se leva com eles a julgarem-se iguais aos professores e sou também da opinião que, se eles não trazem essa noção com eles, devemos ser nós a tratar disso. Ninguém o fará por nós. Os tribunais julgam, as cadeias prendem, as escolas aturam e ainda têm de andar de cara alegre. Bela merda de sistema, francamente.

terça-feira, 9 de março de 2010

Jon and Kate plus eight


Não sabem o que é??? Google it e vão ver se o instinto maternal adormecido (inexistente?) não vem logo ao de cima, o sacana.

Dias bons e dias maus


Recomeça...

Se puderes,

E os passos que deres,

Nesse caminho duro,

do futuro,

Dá-os em liberdade

Enquanto não alcances,

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.


Miguel Torga


Bottom line of a teacher's day.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Seriously!




Ninguém merece mais chuva. Eu sei que somos uma humanidadezinha que fez merda atrás de merda e que temos vindo a deixar este planeta numa miséria, mas ninguém merece ter tanta chuva seguida. É uma vingança da Mãe Natureza? É o início do fim? É um azar do catano? Whatever! Ou isto pára ou a humanidade desaparece e não é no dilúvio, é de depressão. E depois que raio de ideia é esta do pessoal das lojas já andar p'raí a pôr vestidinhos e sandalinhas e coisas de cavas...ora vão-se mas é encher de moscas! Estamos a uma semaninha e tal do início da Primavera e durmo de pijama polar, não me dispo para tomar banho a menos que o aquecedor já esteja a bombar há uns bons 10 minutos e ando com o cabelo cachapado na pinha assim que meto o pé na rua. Já não há paciência, ainda por cima que sou daquelas pessoínhas que em Setembro disse qualquer coisa do género: "Já tenho saudades do Inverno". Uma bigorna na cabeça, é que eu merecia. E o cheiro a mofo e a roupa-que-não-é-lavada-e-que-quando-é-não-seca-e-cheira-como-que-a-chulé que uma pessoa tem de gramar nas salas de aula? Opá, sol, queremos sol. Period.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Daniel Sampaio (recebido por mail)

Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde.
Ao contrário do que parecia em declarações minhas mal transcritas no PÚBLICO de 7 de Fevereiro, eu não creio à partida que será muito mau para os alunos ficar tanto tempo na escola. Quando citei o filme Paranoid Park, de Gus von Sant, pretendia apenas chamar a atenção para tantas crianças que, na escola e em casa, não conseguem consolidar laços afectivos profundos com adultos, por falta de disponibilidade destes. É que não consigo conceber um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem.
O meu argumento é outro: não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar: perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.
A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem
o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.
Aos professores
, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.

Li, há um par de dias, uma apreciação psicológica que havia sido feita a um aluno de uma colega minha que dizia que rapaz tinha dificuldades e que, obvamente, a actuação dos professores teria de sofrer alterações, de forma a que o rapaz ultrapassasse as ditas dificuldades diagnosticadas. Até aqui tudo bem, não fosse ele um de 25. O relatório trazia uma página com não sei quantas propostas de trabalho que faziam todo o sentido, sem dúvida: valorizar o processo e não o produto, reforçar positivamente, criar trabalhos individualizados, etc, etc...
Tudo isto faz parte das nossas funções, mas estamos a falar de um aluno que tem mais não sei quantos colegas na mesma situação, e cada um tem o seu próprio plano de trabalho. Sem mencionar a indisciplina e o desinteresse dos visados. E a falta de acompanhamento/interesse dos pais...
É uma bola de neve que cai sempre para cima dos mesmos, pronto.