sexta-feira, 19 de março de 2010

O meu pai


O meu pai é o maior e o mais bonito e o mais inteligente de todos os pais do mundo e arredores. Herdei dele a desarrumação, a distracção e a lágrima fácil. Chorei muito na minha adolescência por ser filha de alguém tão rígido, mas agora sei agradecer-lhe os nãos que ouvi. Cada um deles. O meu pai era o pai que as minhas amigas temiam: havia o pai ausente, o pai bonacheirão e o meu pai. Quando havia algum trabalho da escola para fazer, lá montávamos nós a confusão no stand, mas a coisa durava pouco, bastava ouvirmos o tossir típico e parava logo ali a parvoíce. Ninguém falava no carro quando ele nos ia apanhar à escola e era com alguma miúfa que eu lhe pedia se podíamos ir na caixa aberta da carrinha. E ele às vezes dizia que sim, e era a loucura! Tenho um pai levado da brecaa, com um feitio complicado, mas sei que herdei dele essa rectidão no trato, principalmente com os meus alunos. Foi ele que me ensinou a fabulosa frase:Quanto mais te baixas, mais o cu aparece. Na esperança que eu aprendesse a saber distinguir humil dade de subserviência. Foi ele que me ensinou também que quanto mais conheço pessoas mais prefiro os animais. Com ele aprendi a gostar de animais, a não ter nojo de carraças nem de pulgas e a gostar de dar banho à cãozoada toda. Com ele aprendi a levar comida aos animais vadios às escondidas. Foi ele quem me fez reconhecer a validade da resposta: Eu sou eu, naqueles meus momentos comunistas da adolescência. Foi o meu pai que tirou importância ao facto de eu ter tido 12 no exame de Latim, enquanto eu chorava no lugar do pendura. O meu pai detesta pimentos assados e feijão frade e eu gosto muito de o picar com isso. Ligo para casa todos os dias e ele diz para a minha mãe é a pintassilga! e fica a ouvir a conversa e de vez em quando interrompe e diz: fala mais que um saca-moelas!
É o meu pai, pronto.

2 comentários:

Dina disse...

Ele devia ler isto...é uma linda declaração de amor!

Jibóia Cega disse...

Adorei este texto. Mesmo!
Parabéns! :)