sábado, 20 de outubro de 2007

Bora rebolar na relva?


Quando somos miúdos estamos formatados para apreciar todas as pequenas coisas da vida e a entendê-las como aspectos fundamentais daquilo que nós somos.

Depois crescemos e deixamos de ver as essas pequenas coisas da mesma forma, porque já conhecemos o som das ondas e o cheiro da relva cortada de cor.

Aos poucos vamos transferido essa importância, que anteriormente atribuíamos a coisas pequeninas, para aspectos cada vez mais práticos. E, sem nos apercebermos, começamos a distanciar-nos cada vez mais daquilo que éramos.

Lembro-me que, quando era miúda, a minha casa estava sempre cheia de gente aos fins-de-semana. Amigos, padrinhos, crianças, gente que dava dois beijinhos repenicados e me dizia que estava cada vez mais qualquer coisa...depois, quando a poeira da excitação inicial asentava, começavam a falar daquelas coisas chatas:o emprego do não sei quê, o preço da casa do filho do qualquer coisa e era aí que eu ligava o botão do off e corria para o quintal a proteger-me do aborrecimento, enfiando-me na casota da Lassie...

Entretanto, também eu já fui arrastada para o universo das pessoas crescidas, e agora sou eu que digo à afilhada do Eskisito:"Espera só um bocadinho, a mãe está a ter uma conversa importante com a Maria..." enquanto a tento sentar para que ambas consigamos discutir "aquelas" coisas que antigamente me faziam bufar de tédio.

E é assim que se opera a metamorfose. Não sei quando foi que deixei de ser uma miúda despreocupada para me transformar naquilo que sou.

Aos poucos, e sem nos apercebermos, e de tanto andarmos a contar tostões e a fazer ginástica com o tempo, deixamos para trás, escondidas num qualquer canto recôndito da mente, a banda que nos acompanhou nas desventuras de liceu, o filme kitsch que nos levou às lágrimas, a canção que dizia aquilo que não conseguíamos dizer...enfim, suplantamos o sonho com a realidade.

A vida afoga-nos em preocupações, maldizemos a sorte daqueles que se dedicaram ao sonho e sentimos pena de nós próprios, que cumprimos horários e acatamos ordens. E achamos que, verdadeiramente, somos nós e as nossas preocupações, quem faz o mundo girar. Um mundo de coisas prácticas e cinzentas. Que interessa a mim que a não sei quê tenha gravado um disco, de que serve mais um filme que custou milhões? Não serve de nada.

E depois damos connosco, numa tarde de sábado, a seguir ao almoço com os amigos, a assistir a um filme e a aproveitar dessa forma o dia que a vida nos dá para viver.

10 comentários:

MiSs Detective disse...

ai maria que lindo texto. sim senhores. esta mulher surpreende-me :)

bjs, bom fim de semana

Andreia disse...

É impressionante que enquanto leio me revejo nas tuas palavras... SAUDADES, saudades de ser criança sem preocupações e aventureira (o sobe e desce pedras que tanto gostava e ainda gosto... mas agora preocupo-me mais se estrago ou não os sapatos:P), de não me aperceber das contradições e das contrariedades do dia-a-dia...
Agora como dizem os meus avós "é só canseiras..."
Lá está "...a luta constante..."
Bom fim de semana
beijinhos

V. disse...

Muitas vezes dou comigo a tentar afogar esse lado que tu procuras em ti. Muitas vezes canso-me não de sonhar mas de me permitir manter o sonho vivo, como se fosse um luxo a que não me posso dar. Mas depois, noutras ocasiõies muito especiais, esqueço esse esforço e deixo-me ser quem fui.

Beijinho! (essa ropita? está toda passadita? ;))

Dina disse...

Vcs os dois andam inspirados...

Azul disse...

Ora bolas.
Vem aqui uma pessoa, a precisar desesperadamente de uma consulta de boa-disposição e dou, em ambos os lados, marido e mulher , com do~is post que me fizeram ir ás lágrimas...
MarialindaI, o que relatas é exectamente aquilo que estou a sentir.
Há dias em que sinto que me perdi algures, que a menina que tenho em mim me abandona e tenho ganas de fugir para qualquer lado e ninguém me encontrar.
Como estou nestes dias e vocês os 2 ao que parece também, vou-te pedir licença e vou pôr o teu texto lá no meu sítio.
Está lindo , tal como o do EsKisito,tão lindo que não consigo parar de verter água...vocês já sabem, eu sou assim :uma lamechas...

Maria do Consultório disse...

miss detective:

É da falta de batatas fritas...e de chocolate!
beijo

andreia:

E esta vida de professor das AECs não ajuda nada a manter a nossa boa onda. Ando saturada e não tarda mando tudo às urtigas.
beijo

thunderlady:

Esse lado é essencial senão damos em malucos!
(Sá faltam 2 ou 3 peças...)

dina:

É a fome!
beijo
azul:

Não combatas o que sentes a escrever no blog. Tens de segurar o Azulão pelos ombros e sacudi-lo para ele perceber o que anda a perder!Vê lá se ligas o messenger.
beijo

ariba disse...

Maria, já reparaste que tens o dom incrível de pôr por escrito aquilo que tantas pessoas, em tantos lugares diferentes estão a sentir?
Pela minha parte só posso dizer-te que chegou a coimbra em perfeitas condições e no timming ideal!!

Obrigada s'tôra

ps: quando fores rebolar na relva chama-me!!

Richie disse...

Olá Maria,
Li o teu texto, linkado num outro blogue, e gostei muito. Tens de facto razão, crescer tem destas coisas. Mas não tem de ser sempre assim, podemos tb misturar nos nossos dias, pedaços de nós, das crianças que fomos, e que no fundo nunca perdemos.
Por outro lado, dou comigo a pensar, que mantermos aquela ingenuidade e sinceridade desarmante das crianças, muitas vezes nos cria problemas, desgostos, e pode deixar-nos demasiado expostos. Onde está afinal o ponto de equilíbrio?
Na dúvida, acabo sempre por soltar a criança que trago dentro :)

Beijinho

Azul disse...

Eu tenhosempre o messenger ligado, linda...de dia, no work...

em casa, noite, é raro, cenas de gaija com filhos e marido Conimólis, tas a ver?
No time!
Bj.

wednesday disse...

Muito bonito... E mesmo que andemos a correr com eles e a brincar com eles, não sei porquê há uma altura em que arranjamos uma desculpa esfarrapada e paramos, enquanto eles ficam trsites porque acabou a boa disposição. É tão bom ser criança, não ter fronteiras muito duras e severas e viver o dia a dia com um sorriso nos lábios.