sábado, 17 de janeiro de 2009

O professor Rolando

Recebi dois comentários aos dois últimos posts que achei que mereciam honras de posts! A honra que lhes posso oferecer, ao menos.

Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "É por isso que ser professor é fixe":

Tocou a campainha.Estranhamente, soou como a harmónica do Charles Bronson. Um som agudo, que se prolongou enquanto todos se iam desviando, cada vez mais encostados à parede.Ao centro, S, o alunos rebelde esperava pacientemente, os tenis a levantar o pó do chão e a mão no cinto, desafiadora, a poucos centimetros do seu Mp3.A porta rangeu, lugubre, nos eixos enferrujados e a professora de inglês entrou, vagarosamente, medindo as distâncias e ajeitando os dois pesados dicionários que lhe pendiam do cinto.A turma sentia o perigo eminente e fez-se um silêncio de gelo. O duelo ia começar.S recuou um pouco, virou-se, remexeu os fones nos ouvidos e coçou a ganga das calças. A professora de Inglês pressentiu o perigo e colocou o apagador ao alcance da mão. Disfarçadamente, passou a mão pelos cabelos e observou de soslaio a turma. Por quem estavam eles a torcer ? Um minuto passou, dolorosamente lento. Os mais nervosos roiam as unhas e o silêncio era tanto que até se ouvia a professora de matemática, na sala ao lado, a gritar qualquer coisa de trigonometria.A mão de S estava já pousada no Mp3, pronto para a acção. A professora de inglês parecia nervosa, como se ainda estivesse a decidir se iria utilizar o apagador ou se iria arremessar o dicionário.O silêncio era insuportável.Nisto, o impossível aconteceu.O telemóvel da professora de inglês tocou, aquela música caracteristica da missão impossível, que todos já conheciam tão bem.Tudo aconteceu numa fracção de segundo.A professora de inglês levou instintivamente a mão ao bolso e S, o aluno rebelde, decidiu aproveitar a vantagem.Com um gesto rápido, saca do mp3 e prepara-se para o ligar.E eis que de repente, saindo do penumbra, Jessica, a arqui-inimiga de S, salta para o centro da sala, interpondo-se entre ele e a professora de inglês. Mais rápida do que a sua estatura diminuta e barriguinha proeminente fariam supôr, liga a câmara do telemóvel e ameaça, numa voz fria e carregada de emoção:- Ligas o Mp3 e eu ponho este video no Youtube, que te lixas...S parou, estupefacto. A sua arqui-inimiga levava-lhe a melhor, outra vez. Ainda pensou em ligar mesmo assim o Mp3 mas não quiz arriscar.Logo hoje, logo hoje que não estava com o visual certo, não se podia dar ao luxo de aparecer no youtube.Baixou os braços, aceitando a derrota.A turma voltou a respirar de alivio e a harmónica do Charles Bronson soou uma ultima vez, enquanto que a professora de inglês trocava um olhar cúmplice com Jessica, a gordinha de reflexos rápidos.Ficava-lhe a dever uma.Mas tinha valido a pena.Mais uma vez, S, o aluno rebelde, não tinha levado a melhor.
Rolando, professor, Elvas



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "A minha manhã":

Era uma vez um raptor de professoras. O dito cujo, pastor de profissão, usava sempre o mesmo modus operandus, simples e infalível: Pegava na sua enxada, dava uma trolicada num gato vadio e depois colocava-o no meio da estrada, pondo-se à espreita.Habitualmente, havia sempre alguém a parar, condoído com a situação. E aí, uma pancada certeira com a enxada e ... zás, já está mais uma. Em seguida, arrastava as suas vítimas para trás de um chaparro e obrigava-as a comer açorda alentejana e a cantar, durante duas horas seguidas, aquelas músicas do grupo de cantares alentejanos de Serpa. Um autêntico suplicio, bem visto.Naquele dia, algo de diferente aconteceu. Um nevoeiro horrível, daqueles em que o cão se confundia com as ovelhas e vice-versa, e quase nenhum movimento.De repente, lá vêm uns piscas e um carrito pára, como de costume, ao ver o gato todo esticado no alcatrão. Alguém abriu o vidro lá de dentro e perguntou-lhe se precisava de ajuda.Aquilo desarmou-o.Então ele, um empedernido raptor e torturador de professoras, ex-vocalista do grupo de cantares alentejanos de Serpa, ele precisava lá agora de algumja coisa 'Claro que não precisava de nada, pois então...Sem saber como, deu consigo a dizer " Não, está tudo bem, coitadinho do gatinho, Tinha um pelinho tão bem tratado...Devia ter dono "E o carrito lá partiu, e a condutora do carrito lá escapou a um infame rapto, do Homem da Enxada.Moral da história ?Ao ver um gato siamês esticado no meio da estrada, telefonar imediatamente para o 112, parar o carro, ligar os piscas, colocar o triângulo à distância regulamentar e esperar.Se o gato estiver a fingir, ou se o 112 não aparecer, então seguir viagem.É que os gatos são falsos, e às vezes, fazem estas coisas...
Rolando, professor, Elvas.

Obrigada pela atenção, fazendo das minhas parvoíces debitadas em forma de texto, histórias brilhantes. Diga lá, Rolando, por acaso conheço-o? Terá sido meu professor??? Medo, medo, medo...

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado pelo simpático post.
Não acredito que nos conheçamos, mas é bem verdade que o mundo é mais pequeno do que aparenta...
Parabéns ao seu sentido de humor, que me prendeu a atençao a tal ponto que não resisti a escrever-lhe aqueles pequenos improvisos.
A vida de professor, na verdade, dava um belo livro...
Ou melhor, dava uma enciclopédia...

Rolando, professor, elvas