quarta-feira, 9 de maio de 2007

No tempo em que os putos estavam calados...

Hoje o dia está a correr bem. A turma mais fraca que tenho, e que é considerada a mais problemática da escola, surpreendeu-me pela positiva: sem ter sido necessária uma intimação da minha parte, os miúdos enunciaram todo o vocabulário apreendido desde o início do ano. Fiquei mesmo muito orgulhosa. Sempre acreditei que eles têm tantas capacidades como os outros, embora com vidas difíceis e falta de apoio (dentro?) fora do ambiente escolar. A turma tem 16 alunos e TODOS têm acompanhamento psicológico...que é como quem diz, o sô dôtor interrompe as aulas para ir buscar os miúdos à sala. Passados 20 minutos vem buscar outro...enfim, é o sistema que temos. Resta acrescentar que isto acontece uma vez por semana, o que, como devem calcular, não faz diferença nenhuma no comportamento dos miúdos. Para não dizer que vêm pior.
Mas não é o comportamento que me afecta, aliás, é, mas já sei que não vale a pena lamuriar-me...o que, de facto, me tem vindo a fazer pensar é o método de trabalho utilizado pelos miúdos.
Quando eu tinha a idade deles não gostava de estudar, da mesma forma que eles não gostam. Nunca fui uma aluna brilhante. Nessa época (que nem foi há muito tempo) nós eramos sujeitos a um elevado grau de exigência a todas as disciplinas. De uma maneira ou de outra percebíamos a importância do nosso trabalho para atingir os nossos objectivos fossem eles mais ou menos elevados.
Depois estudei a pedagogia toda e os métodos todos e cheguei à conclusão que a melhor maneira dos meninos aprenderem é, de facto, a abordagem pelo jogo. E andei enganada uma carrada de tempo...
Ora isto é tudo muito giro quando lidamos com crianças habituadas a determinadas regras de funcionamento na sala de aula...é que, diga-se de passagem, ensinar-lhes as funções corporais aos pulos numa turma de índios tem qualquer coisa de suicida...
Esta teoria assenta no princípio que as crianças aprendem melhor se não se aperceberem que estão a aprender...e como não percebem que estão a aprender não estudam...
Há uns anos isto pareceu-me uma verdadeira descoberta. Agora, depois de o ter comprovado, parece-me um chorrilho de tretas de alguém que não esteve NUNCA em frente a uma turma de miúdos sem regras de convivência.
E porque é que hoje me picou a mosca para este lado? Porque tive o azar de dizer " substantivo"... e responderam-me um sonoro "quê???"...é que as criaturas não percebem nada de nada e quando algum dos professores lhes tenta ensinar alguma coisa " a mais" eles acham que não é preciso.
Lá está. Apetece-me chamar BURROS a quem nos proíbe de stressar as criancinhas com o imperativo: "Estudem"...não são os alunos que têm culpa da ignorância a que estão votados somos nós (grupo em que me incluo) que baixamos a calcinha aos psicólogos e às directivas do Ministério.
Ontem, um que foi à terapia da fala, entrou a meio da aula. Uma colega diz assim: "Ó teacher, ele está na fisioterapia porquê? Está trámatizado?"

7 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Olá, Maria, vim "devolver" e agradecer a visita.

Estive a ler este teu texto e a comparação com o "meu" tempo é inevitável. Não me lembro nunca de ter tido um colega com problemas psicológicos, nunca me lemnro de nenhum aluno ter respondido à Professora (na primária, claro)... e isso não impediu da minha geração ter tido sucesso, dentro do possível. Alguns até conseguiram criar blogs e tudo, vê lá! ;)

Um grande RAUF para ti!

Teresa disse...

Não sei se este é o blog certo, uma vez que tens dois. Mas sendo o outro escrito a quatro mãos, algum poder de dedução e uma certa intuição feminina fazem com que me incline mais para este.

Só li os dois últimos posts (tenho de sair se não quero atrasar-me), tenho de voltar.
Para já agradeço a visita e espero que o banho do Lucas corra bem.
Messalina não gosta, mas submete-se. Agripina é um caso clássico. Roupões turxos cheios de fios puxados e bons para o lixo, eu e a casa de banho encharcadas, etc...

Um beijo.

Dina disse...

Olha do que eu me livrei...
Numa determinada altura naquela bela cidade que nós conhecemos só me calhavam as turmas dos disfuncionais...depois eram os meninos bem todos e confesso que me deram mais trabalho estes últimos que os que ninguém queria aturar. Os meninos bem armados ao pingarelho que achavam que por serem filhos dos seus ilustres papás podiam dizer e fazer tudo o que lhes apetecesse. E os filhos dos colegas? Qua achavam que deviam ter 5 só por isso?
Recordo-me mais vezes dos disfuncionais do que dos outros e acho muito engraçado quando encontro alguns dos meus alunos e percebo que tive alguma influência na decisão que tomaram em relação ao seu futuro.Um deles que hoje também é professor confessou-me que adoptou o meu método com os seus alunos barulhentos...e que normalmente dá resultado.
Teacher sofre!!
Mas até tenho saudades desses tempos embora reconheça que hoje em dia não sei se teria paciência para aturar meninos mal educados porque os meus alunos eram irrequietos mas em termos de má educação eram raros os casos.

Anónimo disse...

Coitadinhos... Chega a ser doce! :)

Beijinhos

Anónimo disse...

poi...
eu também sou do tempo em q nos portávamos bem.
e nem diziamos muitas coisas às professoras, nem tìnhamos colegas com «depressões»....não naquele tempo!!!
Sandra

Tigresse disse...

Obrigada pela tua visita e comntário!
Sei dar valor ao que passas... Apesar de trabalhos diferentes existem aspectos em que lutamos contra o mesmo!
Mas olha respira bem fundo e dá o teu melhor sempre! Assim ficarás sp bem ctg propria!E nc desmotives! Luta sp contra tudo e todos e acima de tudo pelos teus objectivos! Apesar do meu trabalho muitas vezes ser "Boicotado" eu continei a lutar pelos objectivos que pretendia e finalmente estou a começar a ver a luzinha ao fundo do tunel... Haja paciencia...
Boa Sorte ;)
Beijinhos

Formiguinha disse...

Mais uma vez farte-me de rir com o teu post sobre a realidade das escolas! Realmente mudou muita coisa desde que nós deixámos a escola!!!

Mas o que atormenta MESMO é pensar que daqui a 20 anos esse pessoal vai estar à frente do nosso país... e se agora já é assim...!!!